—Ai droga! Me desculpa? — ela disse depois de pisar no meu pé.
O que? Desculpa? Magina, que isso! O que é um pé perto de um coração?
Não disse nada, apenas a olhei e sorri, mas minha alma quis dizer muita coisa para ela, e como fazer isso sem que ela pensasse que eu tinha problemas?
Não disse nada, apenas a olhei e sorri, mas minha alma quis dizer muita coisa para ela, e como fazer isso sem que ela pensasse que eu tinha problemas?
É que quando a olhei foi como se eu não pensasse em que velocidade estávamos, por que estávamos ali de certo modo parados em relação ao outro. Foram os seus olhos castanhos que me prenderão ou sua pele morena que me fez desejar toca-lá?
E sim, eu super disfarcei, eu olhei para um lado e para outro, mas entre a esquerda e a direita lá estava o meu foco, era ela.
Então foi no cacho do seu cabelo que eu vi o desenrolar da nossa história: Ela me contaria talvez sobre um irmão ou uma irmã e suas brigas, me contaria as coisas mais bestas de sua vida e sem sombra de duvida ela me contaria sobre o seu primeiro PT.
Eu a levaria para comer, seriamos daqueles casais lindos que ficam obesos enquanto assistem aquele seriado nada haver da Netflix. Tiraria aqueles cinquenta minutos do meu dia para zoar ela, dizer cada um de seus defeitos, eu riria deles e sem duvida ela iria fazer aquele drama de criança mimada, iria olhar para mim e com uma voz extremamente aguda dizer "Para cara! Não sei porque eu te namoro. Sério!", e no fim, depois de deixar ela louca de raiva eu teria aquele resto de vida para ama-lá.
A porta se abre e naquele momento nos olhamos, como se ela também implorasse para que eu não saísse por aquela abertura mundo afora. Confesso que meu mundo agradeceu a todos os deuses quando a porta simplesmente se fechou. Peço o numero dela? Talvez? Não, melhor não.
Seriamos aquele casal de Facebook meloso e incomodo, me desculpe, mas é que ela é tão linda. Eu com certeza tiraria foto dos olhos dela ao lado dos meus, porque não importa se os dela não são claros como os meus, o que importa é a profundidade deles, e ela era um mar de olhares.
Eu faria de tudo por ela, mas ela me parece não estar interessada. Ela me olha vez ou outra entre essa floresta de pessoas, mas talvez seja constrangimento pelo pisão, não no pé, mas na alma.
Então acho que tenho que me arriscar. E se os seus olhares forem, mais profundos do que cansados? E se seus lábios forem mais artísticos do que arte? E se a sua alma for mais cor para a minha? Então, vamos lá, no três.
Um, dois...
Espera, eu preciso de um sinal, destino, sei lá. Por que eu não sou mais fácil? Vamos fazer assim, se essa porta se abrir e ela sair então era isso, seriamos péssimos juntos, pior casal, brigaríamos todos os dias e cinquenta minutos para falar mal dela seria pouco, mas se ela ficar, então eu estarei preparado para encarar-lhe olho no olho, alma na alma.
—Ao desembarcar cuidado com o vão entre o trem e a plataforma.
Do que se trata esse vão exatamente? Claro que fisicamente seria o buraco entre o trem e a plataforma, mas naquele momento o trem era eu e a plataforma era ela, e aquele vão que ficou entre a gente, o que eu poderia fazer?
Ela estava lá e eu aqui, eu poderia correr até ela, mas a porta com toda certeza fecharia, rompendo o ar, o chão, a vida e o pisão. Aquele vão, maldito vão entre nossos corpos, maldito ar, maldita porta, maldito destino. Não havia como ter cuidado, eu cai e fui esmagado.
É difícil acreditar em quão ruim seriamos, éramos incríveis juntos, mas talvez se eu vagar pelos vagões...