Sei que não deveria
começar esta carta te chamando dessa maneira, há muito tempo você
deixou de ser meu para ser de qualquer outra pessoa, mas é
inevitável o pronome possessivo quando se trata de você.
Meu coração, que
não bate da mesma maneira desde que você se foi, está gritando por
redenção, mas como dizer a ele que você não volta mais, ou como
dizer a ele que é melhor se acostumar com sua ausência? Hoje
entendo que o coração é um órgão teimoso, mas burra mesmo é a
minha cabeça.
Constantemente ela
me lembra de você.
Aí ela começa a me
pregar peças, vejo você no espelho, sinto seu cheiro pela casa,
ouço sua voz… Talvez eu esteja ficando louca. Talvez seja só a
saudade me fazendo uma visita.
E por falar em
saudade, por onde anda você?
Será que conseguiu
fazer aquela viagem que tanto queria? Será que está deixando a
barba crescer? Será que ainda esquece de tirar as meias para dormir?
Será que ainda se resfria quando muda o tempo?
Eu me lembro de
ficar te importunando sobre o ventilador ligado, o pés descalços e
o agasalho nas noites frias. Será que tem alguém fazendo isso por
você?
E será que você
criou coragem e fez aquela tatuagem? Será que você ainda esquece de
colocar comida pro cachorro? Será que sua gargalhada ainda faz as
pessoas morrerem de tanto rir?
Fico me perguntando
se você ainda conversa enquanto dorme, e se ainda se recusa a usar a
coberta mesmo no tempo frio, se sua samba canção preferida ainda
está com aquele furo no bumbum, se você ainda toca violão nas
tardes de domingo, e se você ainda me ama. Você ainda me ama?
Um dia, talvez, eu
acorde e você não esteja mais no meu coração. Talvez eu me
levante da cama e não olhe mais para o lugar vago que fica ao meu
lado – este mesmo lugar que você ocupou por tanto tempo e que
mesmo agora, longe de mim, ainda sinto como se te pertencesse. E ai
eu só vou me levantar, me espreguiçar e ir tomar meu café. E por
falar em café… Talvez eu não sinta mais saudade do seu café, de
acordar com aquele cheiro delicioso que me invadia a alma todas as
manhãs. Você sempre dizia que para que o dia fosse bom o café era
primordial, desde então, eu que nem gostava de café me recuso a
sair de casa sem tomar uma xícara. E neste dia, eu vou simplesmente
preparar meu café sem comparar com o seu, ou quem sabe eu só
esqueça esse habito de café e resolva tomar um suco? Vou andar nas
ruas sem desejar me esbarrar com você a cada esquina que virar, ou
sorrir para as pessoas sem esperar que você esteja me vendo sorrir.
Vou parar de procurar você nos homens que eu conhecer, parar de
desejar que todos eles sejam você, parar de me privar de receber um
amor, que não seja o seu.
Talvez neste dia,
que meu coração não te pertencer mais, você se lembre de mim. Se
esbarre comigo na rua e torça para que eu te reconheça, e se dê
conta de que você foi burro demais por me deixar te esquecer assim.
Afinal, a gente só deseja o que não pode ter. Não é assim que
falam?
Mas até esse dia
chegar, venho te avisar, que meu coração te espera e quer te
esperar. Tomara que você não demore.
Porque se demorar,
meu amor, só me mostrará que seu amor nunca foi meu.
Termino esta carta
com todo meu amor, que sempre será seu.
Espero sua volta
para casa.