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segunda-feira, 20 de agosto de 2018

"VOCÊ PULA, EU PULO!"



Outro dia tive que ouvir uma das minhas melhores amigas chorar porque o relacionamento de oito anos havia chegado ao fim. Oito anos. Uma vida. E como se não bastasse, uma filha. 
Ela me fez perguntas irrespondíveis, porque eu não sabia o que dizer, logo eu, que sempre tenho uma resposta na ponta da língua, uma teoria, um conselho. Por vezes eu fiquei ouvindo ela falar e pensava comigo mesma: O que eu faço agora? 
Percebi depois de alguns dias que não poderia fazer nada, nem se existisse algo a ser feito. 
Há dores que precisam ser sentidas, corações que precisam gritar, medos que precisam existir para que possamos enfrentá-los e principalmente há amores que precisam de cura. 
Eu percebi que ela precisava e precisa viver esse luto. Essa perda. Ela precisa esvaziar o coração, deixá-lo totalmente vazio, para que assim seja limpo, e se torne terra fértil para plantar e florecer novos amores, por novas pessoas. 
Porque existirão novas pessoas, novos amores e novas histórias. A vida é isso. Não dá pra controlar quem sai e quem entra, não da pra escolher quem fica e quem vai, na grande maioria das vezes a gente só pode rezar para que aqueles que amamos fique, e agradecer sempre pelos que ficaram. É isso. Somos uma constante soma de pessoas que ganhamos e subtrações de pessoas que perdemos, sem nunca perder nossa essência.
Eu disse a ela que era ele quem estava perdendo - e eu nem precisava falar isso, sei que no fundo ela tem consciência. Eu disse o que toda amiga diria: “Você é demais para ele.” Mas percebi que isso não ajuda. Menosprezar o outro para engrandecê-la não diminui o amor dela, muito menos a dor. Só a faz sofrer ainda mais por achar que se fosse realmente tão suficiente ele ainda a escolheria. 
Mas agora eu gostaria de dizer a ela que tudo bem não estar bem. Tudo bem chorar até dormir nas noites em que a saudade apertar, tudo bem não conseguir reagir de imediato, tudo bem ser fraca. Tudo bem. Tudo bem achar que nunca vai conseguir supera-lo, ou confiar novamente, ou até mesmo amar novamente. Demora um pouco, mas passa. E embora eu saiba disso, sei que ela não vai entender agora, muito menos aceitar. Não sentir mais essa dor significa que ela seguiu em frente, e ela ainda não está preparada para não amá-lo mais. 
Quando passamos uma vida amando alguém, é difícil perder esse hábito, mesmo que essa pessoa mereça, mesmo que você saiba que é o melhor. Deixar de amar é a parte mais difícil para quem ama. É uma batalha travada diariamente consigo mesma, uma batalha que na grande maioria das vezes nós perdemos. Você aprende a amar alguém dia após dia, nos detalhes, nas pequenas coisas, nos pequenos gestos de carinho, nos pequenos momentos, nas horas vagas, no boa noite dito, no eu te amo sussurrado. Você aprende a amar no decorrer dos filmes que você assiste só porque ele gosta, no cochilar dos filmes só para agrada-lo. Você aprende a amar quando divide a sobremesa, quando conta piadas sem graça e mesmo assim ele sorri, quando faz humor negro e ele entra na brincadeira. Você aprende a amar gradativamente. E quando se dá conta você ama tanto que não é preciso mais pequenos detalhes para sentir esse amor. Você apenas sente. Não importa se ele esqueceu de dar bom dia, ou se ela brigou por causa da roupa suja. Não importa se ela queimou o arroz, ou se ele quebrou o copo na pia. Não importa se ele continua te surpreendendo, ou se ela continua disposta sempre que ele quer. Quando se ama, isso se torna consequência. Nos acomodamos porque achamos que o amor não precisa ser cortejado depois de conquistado. Equivocadamente nós pensamos que só o amor basta. E deveria. Só o amor deveria ser o suficiente para fazer alguém ficar. É tão injusto essa coisa de “desamor”, principalmente quando uma das partes ainda tem amor de sobra para recomeçar, para tentar, para submergir. 
É como aquela frase famosa do Titanic - “Você pula, eu pulo.” É assim o amor. Recíproco. Uno. Inteiro. A partir do momento que você está pulando sozinho é porque definitivamente algo não está certo. Ninguém merece pular sozinho, ainda que saibamos que o amor é um tipo de precipício onde você pula sem olhar para baixo, na esperança de que alguém esteja pulando com você ou esperando para te amparar quando chegar ao chão. Quando tudo está certo, ele é incrível, mas quando alguém desiste a queda é inevitável. E não existe nada que possamos fazer alem de levantar, sacudir a poeira e seguir em frente, machucada ou não, sempre em frente, na esperança que da próxima vez exista alguém bom o bastante te esperando lá embaixo quando você chegar.
Depois de algum tempo percebemos que no final das contas talvez não seja a pessoa que nós esperamos, mas sim aquela que está esperando por nós. E entendemos que sempre vai existir uma nova chance, não só para o amor, mas para nós mesmos. 
- Maria Fernanda Sollero