Noite passada sonhei com você. Foi tão real, tão vívido, tão intenso que acordei chamando teu nome, mas você não estava lá. Eu já devia ter me adaptado, não é algo novo pra mim o fato de você não fazer parte da minha rotina mais, na verdade, já faz tempo que nos despedimos e fingimos que tudo bem um amor como o nosso não ter dado certo.
Mas é que, ultimamente eu ando pensando muito em você. Em tudo que tínhamos, que juramos enquanto fazíamos amor, em tudo que sonhamos conquistar, e sendo sincera comigo mesma, cheguei a conclusão que ainda não consigo imaginar um futuro sem que você esteja.
Você foi meu melhor amigo. Foi meu parceiro. Estava ao meu lado quando meu cachorro mais estimado morreu e me ajudou, sem pestanejar a enterra-lo devidamente no lote vago da esquina. Ah... Como você é lindo! Consigo enxergar claramente você naquele dia, sem camisa, com uma pá na mão,cavando o buraco e sorrindo. Você devia estar odiando fazer aquilo, mas mesmo assim fez. Você sabia que era importante pra mim.
Esse era você, o cara que fazia coisas que detestava só para me ver sorrindo. Como no dia que você topou ir no carnaval, mesmo odiando carnaval, só pra que eu realizasse o sonho de estar na folia; ou o dia em que eu te liguei da boate, bêbada e chorosa porque estava com saudade demais para ser “indisponível”naquele dia. Você me buscou e me trouxe pra casa, mesmo odiando saber que eu estava na rua um dia após a gente ter tido um briga boba e terminado.
Você sempre cedia. Aos meus encantos, ao meu charme, as minhas manias irritantes, aos meus dengos. Você dizia não, mas logo voltava atrás e dizia sim, e dizia que preferia viver brigando com teu orgulho a ter que me ver sem o sorriso no rosto por bobagem sua. E eu confesso que muitas vezes nem era bobagem sua, era bobagem minha, e mesmo assim você desistia de ter razão para que eu tivesse razão.
Dividíamos tudo. Do dia péssimo que tivemos até a panela de brigadeiro gourmet que você adorava que eu fazia. Dividíamos nossos filmes preferidos. Ríamos de situações que só nós entendíamos. As vezes, apenas com o olhar sabíamos o que outro estava pensando. Éramos como dois imãs, atraídos um para o outro, mesmo quando jurávamos que não nos suportávamos mais.
É claro que nós brigávamos. Absolutamente. Discordávamos de tudo, desde a cor da camisa nova do Corinthians que eu teimava que era vinho e você atestava que era grená (acho que nunca te disse, mas descobri depois de algum tempo que você estava certo), até os significados ocultos em alguns filmes de terror e suspense. Éramos opostos. Diferentes. Eu, tão prestativa, predisposta e afável. Você, por outro lado, um tanto egotista, desconfiado e frio. Sempre me dizendo que eu precisava ser menos inocente, e sempre equilibrando minha balança libriana que tantas vezes agia mais com a emoção do que com a razão.
Você era a razão constante na minha vida.
A razão pra eu acordar e preparar o café, pois você adora café. A razão pra eu não deixar de acreditar em mim mesma, e sempre procurar dar o me melhor em tudo que fazia. A razão pra eu acreditar no amor. A razão do meu sorriso, da minha vontade constante de estar bonita, a razão do meu coração continuar batendo, sempre no mesmo ritmo, sempre pela mesma pessoa.
Agora, sentada aqui enquanto escrevo essa carta, parece que meu coração nem bate mais. Sinto tanta saudade de você, que não consigo respirar, não consigo dormir direito, não consigo render no trabalho, no amor e até mesmo nas amizades ( eu tenho sido uma péssima amiga ). Parece que tudo perdeu o sentido. Eu até me divirto, consigo rir, sair com outros caras, mas sempre que volto pra casa, a primeira coisa que faço é olhar uma foto sua.
Onde você está agora? Qual boca você deve estar beijando? Em qual coração você está abrigado? Será que pensa em mim? Em nós? Será que você ainda bagunça o cabelo pra depois pentear, e não sai de casa enquanto ele não secar? Será que você ainda revira os olhos com demonstrações públicas de carinho? Será que você ainda fica vermelho quando está com ciúme? Será?
Será que para sempre vou sentir saudade de você? Será que existe algum tipo de remédio para um coração tão despedaçado quanto o meu? Será que existe alguém que conseguirá me fazer sentir novamente, tudo aquilo que senti por você? E será que ele vai me fazer feliz? E será que ele vai me deixar dividir a vida com ele? Será que ele vai ficar, pra cumprir todas as promessas que você não cumpriu, pra me fazer esquecer teu nome?
Será que você poderia, por favor, me trazer de volta? Porque depois que você se foi, não sobrou nada dentro de mim, só tem a casca aqui.
Será que você poderia me devolver pra mim?
De todo jeito, se cuida e cuida das partes minhas que você, tão equivocadamente, levou.
Sinto falta de você, mas sinto falta principalmente, de quem eu era antes de você.