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quinta-feira, 25 de abril de 2019



Hoje a saudade veio falar comigo sobre você. Não é sempre que ela vem, mas quando acontece parece que meu corpo inteiro leva uma surra, fica difícil até respirar, mas com o tempo eu fui aprendendo a lidar não só com ela, mas também com a dor e a falta.
Falta do seu perfume no meu travesseiro, ou dos cabelos que você deixava espalhadas no meu boxe todas as vezes que se banhava na minha casa. Falta da sua risada escandalosa vinda da sala, quando você estava no telefone com uma amiga, ou quando achava algo tão engraçado que não conseguia se conter. Confesso, nunca me recuperei da falta de sua risada. Ela preenchia o ambiente, alegrava minha vida, me fazia sorrir também.
Falta da voz de bebê que você fazia com o meu cachorro, e que você deixou mal acostumado com pão depois do jantar. Na verdade, deixou mal acostumado com tudo, até hoje ele dorme dentro de casa porque você dizia que ele se sentia sozinho no quintal. Falta da sua implicância quando eu trocava filme de comédia romântica pelo futebol de quarta, e da sua mania de querer sempre ter razão, mesmo quando não tem.
Falta do seu macarrão, que era a única comida que você sabia fazer, mas que era realmente maravilhoso. Falta de ver você só de calcinha na minha cama, e isso me faz pensar que talvez eu não tenha sido grato o suficiente, ou bom o bastante, ou inteligente, ou engraçado, ou até mesmo romântico.
Falta do seu jeito de me atiçar, de me tentar, e de me provocar. Falta de me esquentar em você, por dentro e por fora.
Sinto falta de você. Todinha; de cada mínimo detalhe seu; daquela sua pinta no meio das costas que eu adorava acariciar; das suas manias, que eu já sabia de cor; do seu jeito desajeitado de ser; eu sinto falta até de brigar com você, de te ver enciumada ou chateada, de saber que você se importava. Eu sinto falta de pode olhar para você, ouvir sua respiração enquanto dormia, admirar o contorno da sua boca, a textura dos teus cílios, a maciez dos teus cabelos.
Puta merda! Que falta eu sinto do teu cabelo; de puxar, de cheirar, de beijar, de sentir, de fazer cafuné, de pentear...
Sinto falta de cuidar de você e de ser cuidado por você. Sinto falta. Sinto muita falta.
A saudade é como gripe. Vira e mexe ela aparece, nos primeiros dois dias te derruba, a cabeça dói, o corpo dói e parece que só dormindo que passa; depois ela ameniza, mas ainda tem aquele incomodo da coriza, dos olhos lacrimejando, da tosse, dos espirros, do congestionamento nasal. Em determinado momento você sara, parece que passou, e acha que nunca mais vai ficar gripado, mas é só questão de tempo ou de uma virada no tempo, vai saber?!
Do lado de cá, eu vou levando a vida. Não tem sido fácil. Quem disse que seria? Eu ainda penso tanto em você, até mesmo quando não quero, ou nas situações mais banais. Você não sai de mim, e eu até queria que saísse, pra ver se consigo ver o mundo de outra cor que não seja a sua ou essa que vejo agora. Uma nova cor, um
novo ar, uma nova chance.
Mas ainda me pergunto como está você, ainda me pergunto se ainda se gripa no inverno, se ainda usa meias quando o tempo esfria, se ainda dorme de coberta mesmo no calor ou com ventilador ligado mesmo no frio. Eu ainda me pergunto se você tem preguiça de lavar o cabelo, e usa sempre aquele pijama velho dentro de casa. Será que você ainda é a mesma pessoa? Será que você ainda sorri quando está no telefone? Será que sua risada ainda chama atenção? Será mesmo que você existiu, ou será que foi tudo fruto da minha imaginação?
Você bem que podia aparecer as vezes, só pra me provar que é real, e a gente rir daquelas mesmas piadas, conta aqueles mesmos casos, ama daquela mesma maneira, e esquece tudo que passou.
Seria um sonho né? Seria mesmo um sonho!

segunda-feira, 15 de abril de 2019

10 DIAS SEM JOÃO - Texto VIII

DÉCIMO DIA

A vida se resume em ciclos, não só esses clichês que todos nós gostamos de fingir que conhecemos, nascer; crescer; dar frutos; envelhecer e morrer. Ou até aquelas frases para dias ruins que do pó viemos e do pó voltaremos, creio que quem faz seu ciclo é você mesmo, você é dono de si próprio e de suas escolhas assim como eu fiz as minhas, do meu ciclo predestinado fiz dele roda, e cirandei feito Maria. Décimo e ultimo dia sem João.

Bem cedo acordei, já corri atrás de fazer meu currículo, pedi minha mãe carecidamente para olhar Hope no momento de minha entrevista.
Cheguei pontualmente as 10:00 da manhã, toda engomada esperei até que chamassem meu nome: - Isabel Candelária Santos Bárbaro, Sua vez!
Como eu odiava ainda carregar o sobrenome do João, mesmo com os papeis do divórcio já assinados, ainda não tive tempo de resolver essa questão.
O Sr. Gomes me entrevistou, dono da editora, muito simpático gostou muito de mim, fui muito sincera com a minha história de vida, e meu atual momento caótico. Ele me compreendeu e mesmo não havendo nenhuma experiência sequer, me deu um voto de confiança e me contratou.
Sai da editora aos prantos, dessa vez eu estava chorando de felicidade, pela primeira vez eu havia feito algo por mim, e por mais que simples, realizou-se mais um sonho meu. Por um momento passei em uma praça, me lembrei de tudo que vivi nesses dias, por mais que inacreditável pude viver um século em dez dias, com esses pensamentos, resolvi encerrar meu ciclo e voltar a prisão, onde João estava.
Eu me sentia uma nova mulher, tão confiável. Consegui olhar nos olhos do João e falar algumas palavras, que para ele poderia ser mais um momento, mas para mim era o meu momento aquele de desengasgar a minha alma. Recitei meu discurso, logo após ele dizer: "Sinto saudades Bel".
Indaguei: "Saudades do que mesmo, de mim? Em que em mim? Creio que você não sente falta da minha pessoa, mais sim de algumas atitudes que por sorte a sua eu irei ressaltar. Arrisco-me a dizer que você sente bastante falta de me proibir de viver, literalmente de viver! Ter um emprego, fazer uma faculdade, algo tão simples como ter um cachorro. Você deve sentir bastante falta de me tratar feito lixo, de sempre se vitimizar e me fazer de opressora com coisas tão pequenas que nem sequer são dignas de ser pronunciadas aqui. Você de verdade deve lastimar a forma como tudo acabou, onde você foi parar. Também o simples fato de sua mãe nem mesmo se importar em procurar saber se para você ocorreria fiança, se é que se poderia fazer algo, isso realmente é muito triste para você. Gostaria que pudesse ter a chance de conviver junto com outros, mas graças ao seu curso superior você saiu ileso disto. Outra coisa que eu gostaria muito que você vesse, a minha casa, a minha vida, Hope o meu cachorro, gostaria que conhecesse Srº Gomes o meu patrão, e também meus amigos da faculdade, gostaria de tantas coisas além dessas; Que você acompanhasse tudo isso que eu vivo, ficasse olhando minhas redes sociais antes de dormir pois agora eu as tenho usado.
João eu te agradeço, por tudo o que você me fez passar, o que mais me conforta é saber que eu segui o meu caminho, e como ele é lindo e você não poderá ver nada, e nem mesmo fazer mais nada, muito menos almejar me estapear.
Eu não pertenço a você. Aqui jaz Isabel de João, aqui nasce Isabel de si.
Fui embora da delegacia sem mesmo saber o que eu acabara de fazer, finalmente eu renasci! Em dez dias eu encerrei um ciclo de uma vida frustrada vivenciada dentro de um relacionamento abusivo em que eu mal tinha minha voz. Hoje eu me pertenço, hoje eu me conheço, hoje eu estou completa!



DEZ DIAS SEM JOÃO, UMA VIDA INTEIRA COMIGO MESMA.



Olá, meu nome é Isabel Candelária Santos, tenho 35 anos, sou casada e tenho dois filhos, engraçado que dessa vez não tenho o sobrenome do meu esposo, pois só o meu basta para a minha historia.
Aos 24 anos de idade vivi o maior conflito de minha vida, um término cruel de um relacionamento abusivo, em que me mantive por seis anos, fui agredida fisicamente e psicologicamente de diversas formas e não tinha conhecimento do que eu tanto passava dentro de minha própria casa.

Graças ao meu bom Deus que me iluminou, durante o período de dez dias consegui alcançar êxito em tamanha circunstância, pude sofrer e sentir a minha dor de uma tamanha forma que até hoje ainda não consegui compreender o tamanho da minha força. Separada, pude viver meus dias com a companhia dos meus pais e do meu animal de estimação. Trabalhando em uma editora, logo me destaquei e consegui uma promoção, de secretaria consegui chegar ao cargo de gerencia.
Terminei minha faculdade, e logo me casei com um médico que conheci durante meus estágios no hospital, ele me incentivou junto com o Srº Gomes a escrever um livro. Com apenas um mês de lançamento, lideramos com o clímax de vendas no mercado virtual. Com isso, recebi propostas para palestras e encontros com mulheres para falar de tudo que já tive oportunidade de viver.
Engravidei de gêmeos, que hoje são parte do meu ser. E com apenas três anos de casada junto ao meu marido realizei alguns dos meus sonhos, como conhecer países estrangeiros. Com isso hoje sou poliglota fluente, estou indo para minha segunda faculdade, sou mãe e esposa, filha presente e uma ótima dona de casa. Não tenho notícias do João, não sei por onde anda ou o que ele faz, mas sei que ele não pertence mais a minha estação.
Eu me resolvi! Com apenas uma escolha, pude refazer a minha vida.

Eu creio, que por mais que seja grande seu problema e por mais que você não ache forças para lutar e acreditar no seu potencial acredite! Seu maior fã é você!
Você é incrível e dono de suas escolhas, se hoje ninguém acredita em você, acredite em si! Sua vida é escrita por suas escolhas, seu presente mostrará o que aguarda seu futuro. Dez dias podem parecer uma eternidade, mas você consegue! Que seu pontapé seja este, Você!

Atenciosamente Isabel.


POR: SARAH G. SANTOS

10 DIAS SEM JOÃO - Texto VII


OITAVO DIA 

Fui a faculdade, me deliciei em conhecer pessoas novas, todos muito atenciosos comigo, pegaram meu WhatsApp e até me colocaram em um grupo, eu estranhei pois ninguém nunca se interessou tanto. Uma colega de faculdade me deixou na delegacia onde eu iria ser ouvida, para fecharem o caso do João.


Não precisava de tribunal, o crime foi confessado pela vítima e com testemunhas, meu pai também depôs para me ajudar, consegui que o João fosse preso, e com isso meu advogado levara o papel do divórcio que formulou, João hesitou em assinar, chorando me pediu perdão. Respondi: “Eu já te perdoei Jota! Não tem porque ficar

se humilhando assim, assine logo os papéis que eu não tenho todo tempo do mundo”.
Ele acenou com a cabeça e depois assinou.

Em um dia, eu progredi tanto que não estava acreditando, meu advogado fez milagres em dois dias! Sempre assisti filmes na adolescência, que se tratando de divórcio demorava anos para sair pelo menos os papéis. 
Eu já era separada, a casa era toda minha, mesmo não tendo minha cara, mas só esse fato para mim bastava.

Cheguei em casa anoitecendo, olhei meu WhatsApp e tinha varias mensagens do pessoal me chamando para sair, eu respondi que não teria como ir, eles rapidamente responderam:
“Bel, 10 minutos estamos na porta! Se apronta”.
Já desliguei o celular indo tomar banho, foi a primeira vez que vesti uma roupa para mim, um sapato que eu sempre gostei, me maquiei para me sentir bonita somente para mim, eu estava maravilhosa não para o João, mas somente pro meu bem estar. Eu estava inteira, de mim mesma.

Eu festejei com os meus colegas da faculdade, senti uma sintonia muito grande com eles, que não me perguntavam nada, assim não me lembravam de sofrer. Aprendi dançar forró com a Katia que é professora, me fez exalar alegria!
Que noite incrível, eu estava feliz, descobrindo que eu sou uma mulher e tanto! Gloriei-me com meu divórcio, estava vivendo e aprendendo comigo, me conhecendo e me amando.



NONO DIA


Mesma rotina da semana, ir a faculdade, chegar e aproveitar minha companhia. Só que desta vez foi diferente, passei pela porta lateral da faculdade e vi uma plaquinha na porta de uma editora, { Preciso de secretaria, início imediato} eu logo corri e perguntei informações sobre o emprego, para mim seria ótimo, perto da minha casa, da faculdade, da minha vida atual. 
O moço que me atendeu, me fez algumas perguntas e pelo meu entusiasmo mandou que eu voltasse no outro dia para uma entrevista.
Fui para casa e me deparei com um cachorrinho atropelado, exatamente na porta da minha casa. 
Eu não podia deixá-lo ali, meu coração doeu em vê-lo daquela forma tão sozinho e debilitado. Liguei para a minha mãe e fomos ao veterinário. Que por vez muito atencioso, cheguei no local como se o animal fosse meu, e realmente carreguei suas dores como se fossem as minhas. 
Realizou-se todos os procedimentos e todas as vacinas, ele precisava de cuidados e eu também, mas eu acreditava que aquele cãozinho me ajudaria mais com sua companhia do que eu o ajudando nos ferimentos. Saindo do veterinário, passamos em um pet shop, comprei tudo para recebê-lo em minha casa, sem perceber estava realizando outro sonho, sempre quis um cachorrinho, João nunca deixou, ele odiava animais.
Fomos para casa e estava tudo em paz, tomei um banho, fiz uma refeição e percebi que faltava algo.
Um nome para o meu novo amigo. Pensei é já o chamei de Hope.
Esperança pra mim, esperança para ele. Esperança para todos nós.


10 DIAS SEM JOÃO - Texto VI


SEXTO DIA

Café em cima da mesa, torrada com patê e um lindo girassol virado para mim, foi assim minha recepção de bom dia, me alegrou ao modo de gritar de alegria! Procurei minha mãe pela casa inteira que por ser muito grande, causava eco, com meus gritos que se espalhavam por todos os cômodos. Incomodou-me não achá-la, mas logo vi um bilhetinho sobre o girassol: “Seu pai precisa de mim também minha pequena, logo quando puder volto para ver como você esta, Beijos mamãe"..
Li o bilhete enquanto tomava meu café, que me fez lembrar dos pensamentos dos dias passados, eu sou a minha prioridade e tenho sonhos!! Correrei atrás deles o quanto antes!

Pesquisei no Google como eu poderia entrar em uma faculdade, abri um site que orientava ao leitor a fazer um teste de aptidão para saber em que área teria maior facilidade de adaptação.
Logo fiz o teste online mesmo, e meu resultado foi enfermagem, deduzi que eu amo ajudar as pessoas.
Concordei com o resultado, estava animada!! Liguei para minha mãe e perguntei se ela poderia me ajudar com as mensalidades até eu conseguir um emprego. Ela muito feliz concordou e disse que iria comigo conhecer a faculdade.

Fui muito bem recebida, a recepcionista que por acaso do destino foi minha colega no ensino médio, fiquei feliz por vê-la e pudemos conversar mesmo que pouco, ela não me fez muitas perguntas, creio eu que por medo de voltá-las contra ela. Orientou-me e eu segui, fiz minha matrícula. Voltei para casa realizada por começar realizar meus sonhos.

Quando deitei a cabeça em meu travesseiro pensei no João, não consegui controlar meus pensamentos, somente queria saber o que ele poderia pensar ao saber do meu progresso.
Por incrível que pareça eu não tinha nenhuma rede social, ainda era a moda antiga somente ligações. Providenciei isso tudo bem rápido, e o meu primeiro ato foi pesquisar o perfil do João, em todas as redes sociais, e o que mais me decepcionou foi lembrar que o João nunca me deixou ter redes sociais, postar fotos ou ser uma pessoa normal. Mas ele tivera tudo no meio virtual ativo, fotos dele em todos os lugares, com muitas pessoas, mas em seis anos havia uma foto comigo, que a minha mãe publicou e o marcou.

Acabou comigo ver isso, o meu turbilhão de sentimentos voltou, chorei e chorei até que minha dor não estava cabendo em mim, procurei um medicamento para dormir, tomei dois e adormeci rapidamente encerrando meu fracasso. Avançando um passo, voltando dois.



SÉTIMO DIA  


Só crescemos quando descobrimos que nós somos a nossa casa, que o habitual é classificado como significativo, que a herança que seus pais te deixaram foi o amor dentro do seu peito, e a prioridade da sua vida é você.
Acordei tarde, eu não queria sair da cama, estava pensando em tudo que anda acontecendo, só me levantei pois recebi uma ligação, era o advogado do João, querendo ele pedir o divórcio para mim, pela primeira vez eu respondi não com piedade de mim mesma, mas com uma voz rude: Me ligue mais tarde, estou indo para faculdade agora e por incrível que para {seu advogado} estou atrasada, passar bem!
Dentro do meu coração eu sabia que era a voz do Pedro, amigo do João. Mas quis levar à frente a marmota dele em tentar me magoar.
Era meu primeiro dia na faculdade, e eu acordei tarde, mais uma vez fracassei. Mas dessa vez eu não iria ficar prostrada, eu iria me erguer. Fiz um almoço bem rápido e procurei um advogado, que bom moço era aquele, me orientara para que eu denunciasse o João por tudo que ele me fez nesses seis anos.

Percebi minha mudança quando aceitei logo quando ouvi, ele se dispôs em me acompanhar e que até poderia me ajudar com toda a burocracia. Precisava de uma testemunha, minha mãe se prontificou na mesma hora que contei para ela.
Fomos todos para delegacia, foi muito difícil para mim contar tudo que havia vivido para o delegado acompanhado por um psicólogo e um escrita.
Falar sobre isso é como reviver tudo de mais cruel que já vivi. Logo depois do meu testemunho, João chegara com uma cara de sono, aquela carinha por qual eu me apaixonei. Ele veio cumprimentou meus pais e me disse: " Radiante como sempre Isabel "
Eu senti repugnância na mesma hora, respondi para ele em tom ignorante: “ Queria dizer o mesmo de você, pena que a vida já te dera o troco, triste fim João”.

Olhando-me com cara de surpresa João saiu, e com isso foi como se estivesse tirando um peso das minhas costas. Eu não senti meu coração disparar, nem muito menos tristeza, estava calma e assim fui liberada.

Mesmo com o meu regresso da noite anterior, eu estava me sentindo diferente, voltei para casa, cozinhei um brigadeiro e descansei na Netflix. Sempre quis fazer isso, mas nunca pude! Foi incrível dormir no meu sofá e acordar cedinho com dor nas costas.
Sentindo-me renovada, pude ver que a vida é realmente um dia após o outro.

10 DIAS SEM JOÃO - Texto V



QUARTO DIA  

Não consegui dormir, nem mesmo comer, a noite foi tão longa que para mim durou uma eternidade, tudo que eu mais queria agora, era parar de me odiar por desejá-lo aqui comigo. Talvez ele tenha tomado algo, que mesmo o enlouqueceu, como sou boba em pensar isso. Devo aceitar que ele me esqueceu, ou talvez pensar que eu estava muito acabada para ele me reconhecer, que baixo da minha parte imaginar isso. Está tão recente o nosso termino apenas quatro dias, eu estou contando cada segundo longe dele, me martirizando com pensamentos de comparação, se era melhor com ele aqui, sendo pisoteada literalmente, ou sem ele aqui? Com meu alto flagelo, prefiro a dúvida.

Quem sabe ele me atenda se eu ligar, somente para perguntar se ele se arrependeu se está chateado, ou se está se alimentando direito.
Pensei comigo mesma mais de mil vezes, em concordância e negação, acabei ligando.. Chamou duas vezes e foi para a caixa postal, eu não desisti, liguei novamente e uma moça com uma linda voz atendeu e me disse:" Oi, só um momento.. Amor, telefone pra você "... Eu não esperei João atender para reconhecer a minha voz e concretizar minha humilhação. Apenas desliguei. E com essa chamada a minha renúncia ao sofrimento, ao desânimo e ao meu amor.

Comecei a refletir e juntar todos os fatos que acontecera comigo, e como eu fui forte em manter tanto tempo um casamento que eu estava enganada em pensar que era bom pra mim. Apenas me serviu de ensinamento de que a maior prioridade em minha vida sou eu. Já não quero saber do João me maltratando, estapeando e escravizando, estou ciente que a resposta das minhas perguntas é que eu estou melhor sem ele, ele me faz mal. Reconheço que quem realmente quer seu bem, não lhe faz mal. João é tóxico para mim, quando estou em sua presença me transformo em um robô, programado para fazer suas vontades.
Isso acaba hoje, eu não me mato mais, posso sofrer mas sofrerei sabendo que irei me erguer e ainda tenho esperança que conseguirei realizar todos os meus sonhos!



QUINTO DIA

Acordei reflexiva, comecei pensar em tudo que me aconteceu durante esses seis anos, e mesmo que pareça errado continuo me comparando com o João, tenho muito que correr atrás desse tempo perdido.
Comecei colocando minha casa em ordem, Fui ao mercado, reabasteci a dispensa, voltei e faxinei a casa toda, logo vi que estava começando ficar para baixo, chamei minha mãe para irmos ao salão, ela se tornou minha melhor amiga, aliviando um pouco a minha solidão. Ela não hesitou em me acompanhar, passamos o dia curtindo um dia de princesa, que por sorte eu paguei tudo com o cartão do João, ele não mudou as contas nem nada disso. Aproveitei e realizei um sonho que para mim pequeno, mas como sonhos não tem tamanho, passei praticamente o dia inteiro cuidando de mim, isso alavancou minha auto-estima.

Mamãe passou em sua casa para ver como papai estava, disse a ele que iria dormir comigo, ele sempre amoroso, encorajou ela a ir e cuidar de mim.
Ficamos conversando até eu adormecer no colo dela, pude sentir aquele sentimento de cuidado que eu não sentia a anos, o gostinho de ser filha única e ter uma mãe presente.
Sempre fui muito amada por meus pais, eles se comprometeram em me darem uma boa educação e me permitiram viver todas as fases, disso eu não tenho o que reclamar, fui ensinada a dar o melhor de mim em todos os tipos de situações, por mais que isso era bom, por circunstâncias da vida me machucou muito também, apesar disso sou grata a todos os momentos.



10 DIAS SEM JOÃO - Texto IV


SEGUNDO DIA   

Acordei hoje por volta das sete, fiz um café preto, e me sentei na varanda, olhei para meu alecrim e chorei. Eu só sabia chorar e pensar como eu fui boba em acreditar no amor, João foi embora e levou o pouco de luz que restara no meu peito, eu não sei o que vou comer, ou que roupa vou vestir, eu não sei se vou limpar a minha casa ou ir à padaria pela tarde. Eu só sei que sou vazia, sozinha amarga. Hoje faz dois dias que ele se foi, eu não tenho ânimo para viver, tudo nessa casa me faz lembrá-lo, o meu alecrim eu plantei pelos simples fato que ele gostava de um ramo no arroz, o sofá é perto da janela, pois de outro modo o incomodava, o conjunto de vasilhas é azul pois comprei em homenagem ao time dele.
Eu me moldei totalmente para caber no mundo dele e ele apenas destruiu o meu, me despedaçou em tantos pedaços que virei pó. Eu melancolicamente amargurada, João se foi e eu fui junto com ele. Nada me faz pensar na maldade ele me fez, no tanto que sofri no meu casamento, só queria ele aqui, o toque daquelas mãos ásperas, e o calor da sua respiração nos meus ombros, queria que ele sentisse minha falta, tanto quanto sinto a dele, queria tantas coisas do João e queria somente uma minha, queria que ele me trouxesse de volta.
Segundo dia sem João.


TERCEIRO DIA 

Ludibriada por álcool estou aqui no chão, contando quantas vezes deixei de fazer o que eu queria para fazer o que o João mandava.

Tenho uma coleção de uísque, ou melhor tinha, bebi tanto que mal me sobrou um copo. Agora embriagada posso até dizer que me sinto um pouco melhor. “Como você é estúpida Isabel, ele está vivendo e você está morrendo, acabando-se pouco a pouco o resto que ele deixou de você”. [...] falara uma voz de fundo bem longe.

Por um minuto pensei estar louca, mas, voltei ao normal quando abri meus olhos e minha mãe estava me olhando
Tomei um banho e enquanto a água descia sobre meu corpo, por um segundo desejei sair daquela situação, pensei comigo mesma, bêbada e humilhada, preciso me recompor, já faz dias que não vou ao mercado, minha geladeira está vazia, mal me alimento direito.
Depois do banho decidi ir ao mercado, quando
logo estava no caixa avistei João; pisquei duas vezes para ver se não era o álcool que estava em meu corpo, estatelei meu olhos e era ele mesmo, o meu Jota!
Ele friamente passou pela porta olhou para mim e veio em minha direção, meu coração acelerado, já estava pensando em que iria falar. Ele veio bem perto de mim, me olhou nos olhos e me disse: “Você já terminou com seu carrinho moça?” Eu tão perdida do modo que estava, apenas acenei com a cabeça insinuando que sim.

Voltei para casa arrasada, João já havia superado nosso casamento com três dias, eu sofrendo tanto por ele, e o próprio me tratou como se nunca tivéssemos nos conhecido. Como sou boba em amar demais, como sou ingênua.
Finalizei meu dia chorando, e chorando muito. Pensando o que eu tanto havia feito para merecer tamanha crueldade no amor.

10 DIAS SEM JOÃO - Texto III



PRIMEIRO DIA   

28 de Fevereiro as 17:30 da tarde João foi embora, se é que se pode dizer assim, ele foi expulso de casa, eu já não aguentara mais tanto sofrimento, não tenho rumo para viver, estou extremamente arrasada, não pensei que seria tão decepcionante esse momento, minha mãe está aqui do meu lado, mal sabe ela como eu me sinto, de um turbilhão de sentimentos o que mais me conforta é saber que consegui contar a ela e pelo fato disso conseguir mandá-lo partir para o seu caminho.
Por vez penso que foi um erro não prestar queixa contra ele, mas é que eu o amo tanto para vê-lo atrás das grades, fico ligeiramente receosa em pensar dele fazer o mesmo que fez comigo com outra mulher. Mas o amor que eu sinto, logo fala mais alto e novamente me surda, me deixando assim sem chão, não quero olhar no espelho, nem muito menos me arrumar, não passa pela minha cabeça o dia que conseguirei sair de casa e voltar a ser a doce e amável Isabel, aquela do ensino médio que era cheia de sonhos, queria logo se formar para arrumar um emprego, fazer sua faculdade e seguir seu sonho de princesa, casar e ter sua família, Tão doce menina, cheia de sonhos, cheia de curiosidades, com um coração tão encantado com os contos das princesas, vivia a se alto declarar uma! Mal sabia que a princesa seria aprisionada, maltratada, pisoteada de todas as formas possíveis e a única que poderia tirá-la do calabouço do castelo seria ela mesma.
Hoje começa o meu primeiro dia sem João.


10 DIAS SEM JOÃO - Texto II




Dia 18 de fevereiro às 5 da manhã, João chegou totalmente bêbado, eu imóvel deitada em minha cama nem mesmo levantei de curiosidade para ver o que ele tanto mexia na cozinha, pensei comigo mesma, ele não deve estar satisfeito com um só tabefe e os maus tratos, agora suponho que queira terminar o serviço executando a minha vida. Dramaticamente continuei meu plágio de sono, enquanto ele tropeçava por todo o caminho, eu como uma boa ouvinte manteve-me quieta. Ele me chamava com uma voz doce, que mesmo que misturada com bebida me trouxe comoção e eu não hesitei, logo respondi com uma resposta calma e triste, “Sim, Jota. Estou aqui ". Ele engasgando as palavras me perguntara se eu preferia suco de limão ou de laranja, com o meu silencio, decidiu por si e levou ao meu quarto um café da manhã, irônico que sem café, mas eu nem mesmo pensei, foi tão inesperado! Durante os anos do nosso casamento ele sequer fez algo tão romântico para mim. Depois de comermos juntos, João não estava aguentando nem mesmo olhar para mim, dormiu nos pés da cama e eu, tão empolgada perdoei o tapa da noite passada e mantivera a esperança no meu coração de que isso jamais iria acontecer novamente e que esse ato veio para que através dele meu casamento pudesse ser revigorado.


(...)


Tenho vivido dias muito cansativos, estou me sentindo imunda em todos os sentidos, João já encara como comum me bater frequentemente, eu já não sei mais o que eu vou fazer, dentro de mim existe um poço tão fundo de solidão, que eu não sei como tampá-lo.
Gostaria de contar a uma amiga, ou até mesmo para minha mãe o que eu ando vivendo, tenho medo do que possa acontecer ao Jota, a verdade é que eu o amo. Mas preciso de um pontapé para me reerguer e resolver a minha vida catastrófica.
Minha atual situação é essa, João me proibiu de sair de casa, não posso nem menos ir à missa, eu já não tenho ânimo para cozinhar e nem mesmo tomar banho, tudo isso é motivo para João me agredir, tanto físico quanto psicologicamente. Sempre que falo algo para mudança dele, ele usa alguma artimanha contra mim para que logo eu me sinta errada novamente em meio a situação e ele se passe por vítima de um casamento arruinado.
Peço forças a Cristo, para que me tire da senzala que eu vivo, me dignifique e que assim eu possa ter a vida que eu sempre sonhei, e concretizar meus tão almejados sonhos.

10 DIAS SEM JOÃO - Texto I



INTRODUÇÃO 

João Leandro Bárbaro, nome do meu marido, como era gostoso pronunciar essas palavras, como era vivido e caloroso o nosso casamento!
Conheci o Jota no colegial, éramos amigos inseparáveis, fazíamos tudo juntos até eu me apaixonar, que por incrível que pareça só nos aproximou mais. Estranho não? Uma amizade que não acabou, mas renovou-se para um amor, que agradeço aos conselhos das minhas amigas, não se tornou platônico.

Nós namoramos dois anos e logo nos casamos, não tive nem o prazer de viver a fase do namoro, nem muito menos do noivado, João me amava de uma forma tão inquestionável que ninguém duvidara que ele me fizera feliz.
Eu observava de forma crítica e silenciosa o tratamento que ele tinha com sua mãe, quando lhe opusera bravamente lhe ofendia. Eu jamais interferia, sempre fui muito de me calar.

Na fase do meu casamento, posso lhe afirmar que o primeiro ano foi o mais feliz da minha vida, ouvi muito falar que o primeiro ano é sempre o mais difícil, no meu caso não. João preparou tudo para que se realizasse o meu conto de fadas, eu, muito romântica via amor em tudo.
Não posso deixar de ressaltar, que nem tudo foram flores, para uma menina que se casou no meio do terceiro ano do ensino médio eu até que me encaixava no cargo de uma boa dona de casa, João sempre muito exigente com horários, creio que pelo exemplo que sua mãe sempre lhe dera. Eu me desdobrava para ser excelente em tudo!

Os anos foram se passando e a linguagem de João foi mudando, já não era tão afaga, mas sim, ríspida! Criticava-me em tudo!
Eu já havia me formado, e gostaria muito de conseguir um emprego, fazer uma faculdade e seguir meus outros sonhos, além do casamento, sempre que eu tocava no assunto ele vinha com uma conversa melancólica e machista de que ele sempre me sustentaria para que eu não precisasse me incomodar em trabalhar, pois me mantivera todos os caprichos.

Já depois de alguns anos, João já estava em um cargo alto, começou a ganhar muito com seu salário, já estava terminando sua segunda faculdade e com um emprego de viajar muito, já havia conhecido parte do mundo. E eu? Mal sabia andar no centro da cidade sozinha, era apenas uma dona de casa, desempregada e sozinha. Sim, sozinha. Eu já não tinha amigas, pois as do ensino médio conheceram outras da faculdade e as que não fizeram faculdade conseguiram empregos e se distanciaram.
Eu era infeliz e o mais difícil disso tudo era que eu sabia.
Atualmente falando, eu não sabia que essa fase passada ainda eu ainda era feliz, meio que não entendia, mas no pouco era. O pior ainda estava por vir.
João perdeu o emprego, e começou ficar em casa comigo, eu estava tão acostumada a viver sozinha que vivia como robô. João era péssimo em tudo para me ajudar, só éramos bons na cama, seu desejo insaciável por mim ainda era o mesmo dos tempos de colegial, disso eu não tenho o que reclamar.
Seu corpo era como chamas que me queimavam de prazer, e seu jeito inescrupuloso com as mãos me faziam esquecer da solidão e de tudo que eu não vivi, mas queria viver. A verdade disso tudo é que tudo que o João me fazia sentir naquelas horas eu chamava de alegria de casamento, êxtase de amor!
Eu sabia que o amava, por outros motivos, mas camuflava por esses outros.
Passávamos muito tempo juntos, e João começou me maltratar, exigia de mim serviços que um esposo falaria com amor não como chefe, ele só me vera como um objeto de prazer como seu cachorrinho de estimação, ou até mesmo sua empregada. Com tudo isso acontecendo eu ainda acreditava que tudo voltaria ao normal, ao nosso primeiro ano, que tudo voltaria a ser felicidade. Até que veio o primeiro tapa!