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quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Exagerada

Eu sinto falta do seu otimismo; do sorriso travesso que você dava sempre que exagerava nas cobranças; do seu jeito imaturo de pedir desculpa, ou nunca pedir. Eu sinto falta das vinte vezes que você me ligava por dia só para dizer que estava com saudade, ou para me relembrar algo que havia me lembrado vinte minutos atrás. Sinto falta do seu exagero, porque é exagerada a falta que você me faz agora. Exagerada e inevitável.

Tudo em você é excessivo, demasiado e exorbitante. Tudo com você é desmesurado e abundante. O grito preso na garganta cobra um preço alto no fim das contas, as lágrimas derramadas e tantas vezes julgadas “ por bobagem “ é o detalhe na conta que não bate. Você é um copo que vive derramando, transbordando e quando não derrama é porque algo não está certo.

Faz tempo que não te vejo derramar por mim. Faz tempo que não acordo com sua mensagem de bom dia fazendo a tela do meu solitário celular acender, faz tempo que não não tenho notícias de você. Logo você, que fazia questão de me manter sempre bem informado sobre todas as suas decisões. Você só esqueceu de me avisar que a última vez que você sorriu sem jeito ao telefone, era a última vez. Ou que você suspirou quando eu disse algo que você gostava de ouvir, era o último suspiro, pelo menos para mim.

Você esqueceu de me avisar que estava cansada demais para continuar insistindo. Brincava muito de “um dia você vai sentir falta desse meu exagero” , mas esqueceu de me avisar quando esse dia finalmente chegou.

Bem que podia ter me dito: “Ei cara, é hoje o dia! O dia que eu vou sumir da sua vida. Essa é a última vez que você vai ouvir minha voz doce e mimada do outro da linha, e aquele beijo hoje cedo foi o último que você teve o prazer de sentir...” Talvez eu não tivesse acreditado mesmo, mas pelo menos, quando finalmente me desse conta do que havia acontecido e perdido, me sentiria aliviado por você ao menos ter dito adeus.

Exagerada você entrou na minha vida. Com aquela mini-saia e os coturnos que você pegou emprestado da sua melhor amiga mas nunca devolveu ( mais tarde me contou a história), e o sorriso grande nos lábios cor de rosa mais bonitos que eu já vi por aí. Exagerada foi como você sutilmente roubou minha atenção com aquele falatório insistente sobre como a política no Brasil não tinha conserto ou como o Flamengo venceu na última quarta-feira de maneira majestosa. Você me deixou completamente fascinado com sua mania de mudar de assunto como se fosse fácil de acompanhar seu raciocínio. Exagerada foi como você me deixou acreditar que estava nas minhas mãos quando eu não percebi que quem estava nas suas mãos era eu. E é exagerada a saudade que sinto de você agora, é exagerada a vontade que eu tenho de ouvir você sorrindo, ou falando de assuntos que eu, sinceramente, não fazia ideia mas mesmo assim achava interessante. Exagerado é esse amor que surgiu por você, e agora bate na mesma tecla o dia inteiro, e me faz agir como louco, ou até mesmo como você: exagerado.

Essa é minha versão de você, mas infelizmente você não está aqui para reclamar, para ver ou até mesmo para aprender a me amar desse jeito apaixonado e exagerado como me encontro agora.

Você foi embora e levou todo o exagero de amor que sentia por mim, deixou o lado esquerdo da minha cama e do meu peito vazio, deixou o silêncio do outro lado da linha de telefone e me deixou aqui, sem notícia e sem saída, completamente e exageradamente louco por você. 

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