Páginas

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

SOMOS INSTANTES

Eu ficava me perguntando como seria quando o amor acabasse, se eu saberia quando ele tivesse chegado ao fim, se algo dentro da gente gritaria socorro quando as coisas estivessem saindo fora de controle. 

Olhando para você agora, eu entendo que o amor não sabe se despedir. Acabamos de fazer amor, ainda tem seu cheiro no meu corpo, e as marcas do nosso prazer ainda estão por aqui, mas você se levantou vestiu a cueca e sentou na janela para fumar o último cigarro. A tatuagem do leão que desenha suas costas está me encarando como se dissesse: “Apegue-se aos detalhes”.

É nos pormenores que percebemos quando está na hora de ir. Se eu fechar os olhos agora eu consigo visualizar nitidamente a primeira vez que nos vimos. A Avenida Sanitária lotada depois do jogo do Atlético e Cruzeiro, eu te enxerguei mesmo em meio aquela multidão de gente. Você me enxergou igualmente. Naquele dia eu nem podia imaginar que um dia chegaria a conhecer o âmago do seu ser. O seu mais profundo pesar. O seu desejo mais íntimo. Naquela ocasião éramos só dois adolescentes curiosos e vidrados no outro.

E em meio a tudo isso, todos esses momentos que vivemos, todos os lugares que descobrimos juntos, todas as inseguranças que dividimos, nem imaginávamos que chegaríamos tão longe nessa coisa de amor.
Chegamos ao ponto de nos conhecer até no momento crucial da despedida. E convenhamos, amor, estamos prolongando isso há tempo demais.

Quem é que vai me abraçar quando meu mundo parecer desabar? Quem vai olhar na mesma direção que eu ou me acompanhar nos dias escuros que eu passar?
Despedir de você é como despedir de eu mesma. É como olhar no espelho e só enxergar metade do que sou. É como viver e não conseguir respirar.

Será que vou me acostumar a não ter mais você nas tardes de domingo? Será que vou me adaptar a não poder te ligar para contar sobre meus medos, incertezas e indecisões...
Sobre a faculdade que não vou mais cursar;
sobre a vontade de jogar tudo pro alto e viajar pelo mundo? E principalmente, quem irá comigo nessa viagem, senão você?

No pequeno espaço de tempo entre fazer amor com você e perceber que não estamos em sintonia, todos os nossos momentos se fazem mais reais do que antes.

Como vou caminhar pela cidade e não pensar em você? Como vou voltar aqueles lugares que só me fazem lembrar você? Como vou ser capaz de me entregar a alguém que não seja você? E nem gosto de pensar na ideia de você tremendo e sussurrando coisas com e para outra pessoa... Ou se entregando por completo para alguém que não seja eu. Despejando o peso do seu dia-a-dia, compartilhando os pequenos detalhes que só fazia comigo. Como vou me acostumar com a ideia de ser uma completa estranha para você algum dia?
Será que vamos passar um do lado do outro e agir como se nunca tivéssemos sido parte um do outro? Será que nos tornaremos aquele tipo de casal que finge que o outro nunca existiu?

Intimidade é quando você conhece alguém tão bem que não é preciso palavras para entender o que se passa com essa pessoa. Exatamente como agora.

Você sentado na janela, olhando o céu, o cigarro pela metade pendurado na boca, as mãos inquietas; eu sei que seu coração está gritando para não deixar que eu faça isso, mas sei exatamente que você prefere me deixar ir a não poder me dar tudo que mereço.

Por esse motivo eu visto minha roupa e caminho até você, abraço suas costas e deixo que sinta exatamente o que eu estou sentindo: como se meu mundo inteiro estivesse sendo desconstruído.

Queria poder dizer mais do que fazer. Queria gritar com você. Queria que fosse mentira, e que não passasse de um pesado, que eu acordasse com você entrelaçado comigo na cama, ouvindo as batidas do seu coração e os suspiros do seu sono pesado. Queria que você me pedisse para não partir, que insistisse que estávamos cometendo um erro desistindo de nós. Queria... Como eu queria!

“A vida vai seguir. Você vai ficar bem!”
Eu fico repetindo isso silenciosamente enquanto tento, sem sucesso, controlar as lágrimas.

Antes de fechar a porta eu digo, mais para mim do que para você: Se cuida!
Os dez minutos que fiquei parada lá esperando que dissesse algo pareceram uma eternidade, mas uma garota esperta tem que saber a hora de ir.

E eu fui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário